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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Que importa...



Que importa o nevoeiro do dia
se tenho a luz da noite para te beijar?
caírei como as estrelas fugidias
dorminindo em teus braços
enquanto houver luar
e no mar do silêncio
serei a sereia
em lençóis de espuma
dormindo na areia
em sonhos de pluma

     Manuela barroso, "Eu Poético VI"
    Imagem: Net

                  

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

ALDEIAS DE XISTO - LOUSÃ


...e por entre a bruma, os passos escorregam na calçada roída pelo tempo.
O silêncio das pedras fala da presença das gentes. 
São agora as heras que escorregam na face lavada pelo nevoeiro que passeia como um fantasma pelo espelho dos caminhos de xisto.


A civilização rouba a riqueza pacífica da serra e dos telhados que agora cobrem somente gatos e solidão.
A chuva miúda corre, gaiata, pela laje luzidia de encontro à cortina de bruma. A Serra da  Lousã, ora se aninha, ora se ergue de mimosas ainda verdes, perscrutando a aldeia faminta de vozes de crianças que já não pedem para nascer.



A cidade enjoa.
Na memória sobram contos de fadas e princesas.
... o Homem sonha, a obra quer nascer.
.... o castelo ergue-se no xisto em ameias de faz de conta...


As janelas abertas com comando descansam na cidade maravilha.
A nostalgia das telhas com beirais onde antes faziam ninhos os pardais, os canteiros de fetos e musgo e as escadas íngremes são agora refrigério para a inquietude dos dias.
E entra-se num reino de nada e de tudo. Não existe vazio se a casa da alma se enche de paz.
A porta fecha-se... entreaberta...
As janelas de tabuinhas são olhos de espanto, enfeitados com o rímel do crochet "démodè"
A lareira acende-se.
O fumo regurgita pela chaminé diluindo-se com o nevoeiro.
...e um entardecer bondoso cobre Serra e Xisto num bálsamo de silêncio.
...e é tudo para se sentir feliz!


Manuela Barroso

"Pelas Aldeias de Xisto"