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sábado, 3 de outubro de 2015

E nós?


Cabeça amolgada em remendos de solidão.
Nas janelas da alma , cortinas sepultando o verde da esperança, sombras longínquas num longo vazio, num inatingível tão perto de ser presente. Pese o azul do  horizonte à espera de novos prelúdios, a imagem permanece proibida nos olhos opacos, vendados em limbos  no cárcere de peitos adormecidos. Sem uma sombra que seja, que engane a solidão.

De costas, para além de outras montanhas, a cidade grita e corre e rejubila e entoa canções de solidariedade perante os olhos opacos.
Como se não ouvissem.
Como se não sentissem o calor frio das palavras também elas, embaciadas.

A garganta-se levanta-se à procura  do grito. Em vão. Ele afoga-se na confusão da multidão entontecida, embriagada de palavras coloridas.

E os lábios emudecem na berma das ruas porque não lhe dão voz.
Num último gesto, as mãos levantam-se, avivando a  sua presença no clamor dos que não têm voz. São mãos quase disformes, flores que se erguem num grito mudo, reclamando igualdades.
...e permanecerão erguidas até que outras se moldem na fraternidade de um  abraço.


Manuela Barroso, "Divagando"