Seguidores

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Simplicidades-Férias



De tanto sol, o tempo sorri.
A Natureza nos  chama.
Dizemos que é tempo de férias, tempo de pausa, tempo de lazer, tempo de nada fazer...
Procura-se os lugares mais exóticos, explorando outras belezas noutras paragens.
"Muda de lugar pelo menos uma vez em cada ano"- diz Dalai Lama
E parte-se em busca de um chão que dá flores e pão que não é igual ao nosso...
Também pensei assim quando ao imaginar outro horizonte, veria nuvens diferentes com contornos acesos e vivos


Mas as nuvens só mudavam com  os caprichos  dos ventos ou com as cores mais cansadas da tarde.
A minha terra começava a ser dos emigrantes a fugir da saudade. Eu esquecia a saudade no torpor da rotina . Porém as casas toscas, velhas, "démodées" e abandonadas começaram a dar outro colorido a lugarejos vestindo- se de gente. 




E nasciam pedaços de céu .
Comecei a perder-me no tempo e o tempo já não não fugia de mim.
Em cada canto, um poiso onde me refugiava na contemplação das pedras, e dos homens que fizeram este poiso onde pousava eu, agora os tédios e os convertia em louvores às mãos que me proporcionaram este recanto

  Até a saudade do granito da minha Serra se fazia presente num tosco fontanário, lembrando as águas que corriam junto aos valados, onde me perdia, catando morangos silvestres...ao som do cantar dos grilos...

 Sob um dossel verde em tranças de glicínias, mesas toscas onde eu satisfazia o meu desejo instintivo de me distender, ora nos bancos segurando o perfume das flores, ora ocupando  toda a mesa  como que numa libertação que antes me  prensava.
As páginas do meu livro iam correndo moles, sob a quietude da sombra que me abrigava do bulício dos pardais.
Queria olhar o nada. Esquecer. Fazer parar o tempo.


Com o conforto que a sociedade  de hoje exige, assim era a "minha casa",  neste pedaço de sopé não tão verde como o meu Minho, mas onde já matava saudades. As pedras toscas sobrepostas e roçadas pelos pinheiros, davam o ar "négligé" a que o ar da montanha convida.
E o bichano, recostado no seu banco de pedra, completava o cenário campestre, que aos poucos se vai esquecendo.
Conforme o dia ia descendo, os contornos reflectiam-se no espelho de água da piscina natural. As libelinhas iam pousando nas margens em contra-dança com as borboletas. Tudo era tão pacífico que me perdia mergulhada no tão pouco que me era tanto! 


Os pinheiros recortavam-se na noite que se fazia anunciar . 
Nada bulia naquele fim de tarde sereno .
Dentro de mim descia também a noite. A nostalgia da infância crescia, sufocando-me...
Os mochos piavam , os morcegos contorciam-se neste anoitecer , atravessando o ar  onde flamejavam insectos. 


...Deitada na rede, balançava-me na frescura da noite, ouvindo grilo e ralos numa miscelânea de cores de velas mortiças como um poema que dorme...
No silêncio desta balada, perdia o pensamento na vastidão do brilho acutilante das estrelas nesta escuridão.
Sempre na inquietação  deste Eu em constante peregrinação.
O Vazio chama-me. A Fonte me acalma
Num areal luminoso ,  acende-se a lua .
E como que num derradeiro cântico  ao dia que finda, a memória da Cruz, escrita na noite, decorando a paisagem nocturna.


Manuela Barroso


A todos os meus votos de Boas Férias