quarta-feira, 24 de abril de 2024

50 Anos do 25 de Abril

 








Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.

Manuel Alegre
do livro "Atlântico" 1981

 

 

  




 

Abril de Sim Abril de Não

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.


Manuel Alegre
30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote

 

 

 







               Não hei-de morrer sem saber
               qual a cor da liberdade.
 
               Eu não posso senão ser
               desta terra em que nasci.
               Embora ao mundo pertença
               e sempre a verdade vença,
               qual será ser livre aqui,
               não hei-de morrer sem saber.
 
               Trocaram tudo em maldade,
               é quase um crime viver.
               Mas, embora encondam tudo
               e me queiram cego e mudo,
               não hei-de morrer sem saber
               qual a cor da liberdade.
 

Jorge de Sena     

(1919-1978)    

 

 



8 comentários:

  1. Boa tardinha de Paz e Liberdade, querida amiga Manuela!
    "Abril de sol que nasce para todos."
    Povo livre jamais será vencido.
    Muito bonito o apanhado poético com que louvou os 50 anos do Dia da Democracia.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  2. 25 DE ABRIL, SEMPRE!
    Querida Manuela, tenha um domingo amoroso e feliz
    e um final de Abril muito agradável.
    Beijinhos
    ~~~~

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  3. Querida Manuela

    Que forma mais linda de Festejar os 50 anos do 25 de Abril.
    "Abril a rodos", "Abril de ser e não ser", "Não hei-de morrer
    sem saber a cor da liberdade", dão uma panorâmica do antes e
    do depois, das expectativas que a Revolução nos trouxe, do que
    foi realizado e do que não foi, faltando ainda o que está para
    ser.

    Que a Liberdade esteja sempre nas nossas vidas.
    Desejo-lhe um Dia muito Feliz.

    Beijinhos
    Olinda

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  4. Que festa esta que fazes aqui, minha Amiga. Os poemas de Manuel Alegre e Jorge de Sena dizem tudo o que nos faz pensar no dia 25 de Abril como um dia único que não queremos esquecer.
    Um beijo e sente o meu abraço.

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  5. Queria dizer dia e escrevi domingo... Desculpe o lapso...
    Em geral, nota-se uma tristeza preocupada que lamento.
    Um abraço.
    ~~~~~

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  6. Grato Manuela pelos maravilhosos poemes que nos deixas!
    Deixo-te um excerto de um poema meu.

    (***)
    Eram muitos, muitos mil,
    respirando Liberdade.
    O povo cantou na rua,
    vestido de mar e lua
    soltou canções da garganta
    como se o mar fosse a rua!

    E a vontade amordaçada
    pele força do fuzil
    deu-me um verso madrugada
    para eu cantar meu Abril,
    levado pela enxurrada
    destas águas… mais de mil!...

    Que o aroma dos cravos se não desvaneça!
    Um grande abraço. Bom fim de semana.

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  7. Sentires primaveris, em verso, que permitem ver encantos por vezes ocultos, mas que se desvendam.
    Grande abraço de vida

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