segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O Merlo: Amor e Sedução


Cada vez que os ouço, mais admiro o seu carácter, o seu instinto protector, a sua altivez sadia

      Como amante envolvente, cuida da casa, protege a companheira, vigiando-a, protegendo-a.

...ele é porventura o mais sedutor “gentleman” da população da sua espécie, no seu fato de cerimónia e seu bico de um amarelo de ouro, digno de um rei. 



O Merlo: O Sedutor amoroso

Quando vagueio por espaços sombrios, há um sobressalto em cada golpe de asa. Ou é um verdilhão que me desafia com os seus trinados, ou o adorável pisco que me acompanha, arrepiando-me com o seu canto. E quanto mais falo para as copas escondidas, mais me ele me provoca com uma redobrada sinfonia a uma só voz.

Mas quero falar do melro.
Ladino, com a velocidade de um jacto e a provocação de um perfeito D. Juan, ele é porventura o mais sedutor “gentleman” da população da sua espécie, no seu fato de cerimónia e seu bico de um amarelo de ouro, digno de um rei. Os seus gorjeios estridentes e atrevidos nada mais são senão avisos de que ali é condomínio fechado...
Como amante envolvente, cuida da casa, protege a companheira, vigiando-a, protegendo-a.
Habituada a ver os ninhos  das cantadeiras  ceresinas nos valados ou nas latadas em flor é vulgar assustar-me com uma fuga inesperada de um pássaro negro das laranjeiras ou por entre as silvas .

Não muito longe no tempo, um destes meus sedutores fez ninho num arbusto de hibiscos junto à entrada principal. Todos os dias guardava os principezinhos no encantamento da fragilidade da sua penugem. 
Porém, uma tarde, quando todas as aves se recolhem quando aparece Vénus e vendo a serenidade do ninho e ausência do general, pé ante pé, aproximo-me do ninho.
Os filhotes, sentindo o perigo ensaiaram uma gritaria que alertando os pais que dormitavam num pinheiro do jardim "mesmo ali"... descem em voo picado em silvos furiosos e assustados, rasando o meu rosto e cabelo em piruetas agressivas. 
Longe de imaginar tal investida, bati em retirada antes que levasse uma bicada nos olhos...

Cada vez que os ouço, mais admiro o seu carácter, o seu instinto protector de amor e espaço, a sua altivez sadia, a sua garra, o seu hino às manhãs azuis ou cinzentas e o seu smoking festivo porque afinal a vida é sempre uma festa.
E ainda hoje sorrio interiormente pela fuga pensando que só o Homem "pensa"

O tempo passa. Os gostos mudam. Mas como seria tão melhor se na sociedade houvesse- no melhor sentido-  mais melros: amorosos, protectores,  honestos , gentlemans.


Texto e imagens de 
Manuela Barroso







5 comentários:

  1. Boa noite de Paz, querida amiga Manuela!
    Assim como os melros:
    "Amorosos, protectores, honestos , gentlemans"
    Sejamos nós uns com os outros.
    Os animais são um exemplo para nós em termos de amizade da espécie.
    Um lindo post nos oferta a quem ama a natureza.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhoa com carinho

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  2. UAU! Texto maravilhoso e as fotos um SHOW!

    Adorei! beijos, tudo de bom,sempre bom te ver! chica

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  3. Querida Manuela

    Fiquei encantada com o seu texto sobre o Melro.
    Lembro-me de no ano de 2020, quando me encontrava
    na varanda da minha casa em confinamento, ver um
    melro todo elegante a saltar de um lado para o
    outro, com essa alegria, esse afã, que dava gosto...

    A expressão tem lugar do amor em qualquer espécie.
    O ser humano não é o único de "pensa" e sente.

    Beijinhos
    Olinda

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  4. Deixaste-me emocionado Manuela!
    Durante muitos anos tive ninhos de melros na minha majestosa magnólia! Passei horas olhando os seus devaneios. Colhi tantos ensinamentos!
    Os melros, sáo Criaturas de Deus, nos ensinam sobre a liberdade, o amor, a partilha, a paciência paciência e a arte!Que todos possamos ser um pouco como essas aves belas e sedutoras!

    Um beijo!

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  5. Gostei kirida Manuela
    Aves lindas e com um texto a deixá-las ainda mais interessantes.
    Não conhecia pormenores sedutores do melro_ lembrei que meu pai gostava de ter
    passarinhos presos em gaiolas e já naquela época sentia que devia estar livres a cantar.
    Beijinhos, Manu e bons dias, amiga

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