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sexta-feira, 24 de março de 2023

Primavera Pascal-Crónica

 



Os campos longínquos e verdes eram barcos no mar do meu pensamento.
Os olhos ausentavam-se nas encostas risonhas dos meus montes com rugas
 em regatos cantantes e alegres, fugindo ao encontro dos botões das giestas
 e aromas de rosmaninhos.

Nos cabelos atrevidos e esvoaçantes dos choupos, penduravam-se rouxinóis
vestindo penas de primaveras meninas, em êxtases de cantos embriagantes, 
repercutindo-se em ecos nos montes de nuvens dispersas no azul sereno e transparente do Vazio celeste.

O vento indeciso, leve, era a vibração que acordava esta alegria interior, num lago 
de anónimas águas, num mutismo contemplativo.
Pensamentos mergulhavam de encontro aos seixos redondos em amêndoas coloridas.
Neste espelho mudo, as recordações boiavam nos penachos amarelos em jardins de Páscoa e começavam a sorrir embaladas no sono da saudade.

O canto do rouxinol ondulava nas curvas do pensamento, percorrendo agora a paisagem colorida das glicínias, numa canção enternecedora e tranquila, escrita em memórias de sinos pascais.
E como uma nuvem, deixei-me envolver nesta melodia, flutuando nas recordações 
que se teciam também na saudade dos meus vestidos rodados de crepe e laços de seda...

Uma imagem se criava em mim, recordando a Vida na morte do Filho do Homem.

Na cortina do tempo, abro hoje a janela, sorvendo a Páscoa do meu dia, na Paz que se faz em mim.


Manuela Barroso
(reeditado)


7 comentários:

A.S. disse...

Maravilhoso o texto que nos deixas Manuela!
Parece ter escutado ao longe o canto do rouxinol.
As tuas palavras fazem-nos reflectir sobre o tempo desta Páscoa tão conturbada pelo desentendimento entre os homens num mundo em convulsão.
O teu texto calmo e sereno é um contributo valioso para que todos pensemos no mundo em que vivemos. Um apelo inteligente e subtil à Fraternidade e à Paz!!
Precisamos encontrar urgentemente motivos de alegria e felicidade.
De mãos dadas, ombro a ombro prontos para o sacrifício, caminhemos resolutos na nossa missão aqui na terra, pois por menor que seja nossa colaboração sempre se acrescentará méritos a tudo, que de livre e sincera vontade for praticada em nome do bem e da paz.
Saibamos ser dignos de uma Páscoa vivida em plena harmonia!

Um grande abraço Manuela!

chica disse...

Valeu a republicação de uma crônica pascal tão linda assim! Belas flores primaveris. beijos, chica, lindo fds!

Graça Pires disse...

Que surpresa boa, minha Amiga Manuela, esta tua crónica que me deixa sem palavras porque as tuas me chegam para encher o meu coração de alegria. Gosto muito de bons textos literários, como este que escreveste. Parabéns!
Muita saúde.
Um beijo.

Ana Freire disse...

Que maravilha, Manuela!!!
Bebendo cada palavra, de pura inspiração e talento poético! E tudo esplendorosamente conjugado com a lindíssima imagem!...
Para ficar apreciando e reapreciando... demoradamente!
Um beijinho! Bom final de domingo e feliz Primavera!
Ana

Duarte disse...

Manuela, deixei-me embalar pelas tuas suaves brisas em verso e desse canto embriagador do rouxinol, e o meu pensamento leva-me a esse cacho de uvas da Páscoa, que era como a minha avó denominava às glicínias: lindas!
Um belo poema, pleno de saberes, que me fez sorver momentos de felicidade.
Abraço de vida, querida amiga.

Toninho disse...

Que esta paz seja sempre a companheira, que inspira e faz um respirar leve.
Uma linda crônica neste olhar sobre a Primavera.
Beijo amiga.

lis disse...

Oi querida amiga
Um texto especial numa data cheia de símbolos e celebrações.
Que tudo flua nessa paz que teu coração escreveu e nos dá de beber
dessa inspiração em cada frase. Obrigada.
Que entrelacemos sempre nossas estações numa comunhão primaveril e outonal.
Com abraços e beijinhos.