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sexta-feira, 5 de maio de 2023

Mãe



 Hoje acordou-me o rio de todos os afectos


Espreguicei-me nos limos suaves,
numa placenta morna protegendo-me dos ímpetos
do bico dos peixes no voo das águas

Toquei a minha pele, nas entranhas, onde
as sensações se disfarçam nos mistérios
da vida
Memórias do inconsciente nas horas brancas
em que te embalava no meu seio
Permaneço ainda deslizando sombras maternais
no regaço que nunca arrefece.

Tenta demolir as pedras do abrigo materno!
Jamais apagarás os alicerces da
cidade que mãe construiu em ti.

Tu, mãe,
fonte de todas as sedes, onde morrem todas
as ânsias e todas as saudades, que vozes te
segredam a ausência de ti?
Que sangue perfuma a transparência da tua alma?
Que pedra constrói o monumento da tua coragem?
Tu, que és mãe,
semeia de branco as constelações que fazes nascer
no perfume das velas, na constância permanente
do teu amor incondicional.
Tudo de ti vem, em ti nasce afinal.

És tudo em todos
numa dimensão desigual

Manuela Barroso, in “Laços”-Dueto- Versbrava Editora

segunda-feira, 1 de maio de 2023

Diálogo com a Rosa






  
  
Quem me fez assim tão linda?-pergunta a rosa atrevida.
Foi a luz do sol, bem-vinda, que te fez nascer para a vida.
 
 
E estas pétalas tão doces, quem as idealizou assim?
Foi a bela Natureza que te criou para mim...
 
E estas folhas viçosas que me cobrem de vaidade?
São a respiração da vidasão o tempo sem idade...
 
E as delicadas abelhas, porque me visitam tanto?
É a cor que as deslumbra, é a sede do teu manto
 
Porque me cortam do pé? Estou bem no meu canteiro
São saudades de te ver, flor, estão sem ti o ano inteiro
 
-Então sinto-me feliz, sinto uma alegria imensa
por me querem assim tanto, ser uma alegre presença.
 
Porque me olhas assim? Porque ficas a pensar?
Porque não te ris para mim? Porque paraste de olhar?
 
Porque és o meu sinalda presença do Infinito
geometria sem igualdo Vazio em que medito.


Manuela Barroso

 


                                  Algumas das rosas do meu jardim

que vos ofereço neste dia 1º de Maio, dia do TRABALHADOR com o meu abraço!











Feliz Mês de Maio!





quinta-feira, 13 de abril de 2023

Lírio

 



A beleza do lirio do vale e a força da fonte no regato que corre na encosta do monte

manto de seda cobrindo as manhãs que abrigam os charcos onde cantam as rãs...

 



Imagem e texto
Manuela Barroso


 

sábado, 8 de abril de 2023

E Resssucitou!

 

                       Com os maiores votos de uma Páscoa Feliz para todos.




Por isso choro em mim a mágoa verdadeira
De ter nascido tarde e só te vir achar,
Feito em marfim, metal, pedra, madeira,
No cimo de um altar!
 
 José Régio, in Poemas de Deus e do Diabo, Portugália Editora, "Obras Completas", 1969
 






quinta-feira, 6 de abril de 2023

Tempo Pascal

Tempo de reflexão!



 

         Se a Tua existência não sensibilizou o coração dos Homens

        Que a Tua morte os desperte para o mistério da Vida.


Manuela Barroso

 









sexta-feira, 24 de março de 2023

Primavera Pascal-Crónica

 



Os campos longínquos e verdes eram barcos no mar do meu pensamento.
Os olhos ausentavam-se nas encostas risonhas dos meus montes com rugas
 em regatos cantantes e alegres, fugindo ao encontro dos botões das giestas
 e aromas de rosmaninhos.

Nos cabelos atrevidos e esvoaçantes dos choupos, penduravam-se rouxinóis
vestindo penas de primaveras meninas, em êxtases de cantos embriagantes, 
repercutindo-se em ecos nos montes de nuvens dispersas no azul sereno e transparente do Vazio celeste.

O vento indeciso, leve, era a vibração que acordava esta alegria interior, num lago 
de anónimas águas, num mutismo contemplativo.
Pensamentos mergulhavam de encontro aos seixos redondos em amêndoas coloridas.
Neste espelho mudo, as recordações boiavam nos penachos amarelos em jardins de Páscoa e começavam a sorrir embaladas no sono da saudade.

O canto do rouxinol ondulava nas curvas do pensamento, percorrendo agora a paisagem colorida das glicínias, numa canção enternecedora e tranquila, escrita em memórias de sinos pascais.
E como uma nuvem, deixei-me envolver nesta melodia, flutuando nas recordações 
que se teciam também na saudade dos meus vestidos rodados de crepe e laços de seda...

Uma imagem se criava em mim, recordando a Vida na morte do Filho do Homem.

Na cortina do tempo, abro hoje a janela, sorvendo a Páscoa do meu dia, na Paz que se faz em mim.


Manuela Barroso
(reeditado)


sábado, 14 de janeiro de 2023

Voos


Tentamos abrandar o ritmo das pulsações  
procurando o afago e a suavidade das  águas. 
Logo nos debatemos com sinais vermelhos 
proibindo a liberdade do nosso voo. 
Cada vez que tentamos poisar, 
há o cheiro do charco que vai apodrecendo a alegria.


Texto e foto
Manuela Barroso

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Simplicidades de Inverno






     

Na amenidade deste inverno, num vaso da minha varanda, ia brotando uma semente. Proveniência desconhecida.
Foi crescendo e deu flor.
Fora do tempo da primavera de outras flores.
A curiosidade ia despertando sobre o fruto que ia sendo vigiado como um ninho:courgette, abóbora ou outro?
Ao lado uma orquídea florindo no tempo apetecido.
Sem sobressaltos.
Hoje a neblina matinal desceu fria, gélida.
A flor amarela recolheu a sua corola numa espécie de protecção, hibernação ou desconforto. Linguagens da natureza...
O fruto, fora de tempo, vai-se desenhando no abrigo ameno de outras folhas na esperança de não abortar até ser testemunho de si próprio.
E se nascer, colherei novas desta divagação que aqui ficarão.
Até lá...
… era uma vez uma semente clandestina de inverno…
 
Simplicidades…

Manuela Barroso 

 



 



sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Feliz Ano Novo

 




Que a Festa de o  Novo  Ano que agora começa, seja a esperança de outras alegrias.
Para todos os amigos e amigas, 
Feliz Ano Novo ! 







Ano Novo, data comemorativa do Ano que agora se inicia e que na perspectiva do meu tio, reza asim...



Ano Novo


Mais um ano se vai, de árdua labuta.
Outros virão, assim, como este vai:
Um filho, a que faltou boa conduta,
Enchendo, de desgostos, a seu pai.
 
Mas o homem, sinónimo de luta,
Se é verdadeiro, nunca se retrai.
Pois quem, na vida, hesita é como fruta,
Que, antes do tempo, amadurece e cai.
 
E, cada vez que o calendário diz
Que o velho vai e, um novo, começamos
(Esquecidos de tanta cicatriz),
 
Ingenuamente, ainda, confiamos!...
- Ninguém arranca a esp’rança da raiz,
Depois que, cá na Terra, nos plantamos…


Florentino Alvim Barroso, in "O Vento e as Ventanias"- Edium Editores. 2009

 

 






quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Feliz Natal

                                                                 FELIZ NATAL!






Hoje a saudade bateu à minha porta.
Peguei na criança que eu fui e embalei-a no pensamento das minhas memórias repletas de recordações...
...Eram dias frios e húmidos nas terras do Gerês.
A noite era o breu que cobria a aldeia entrecortada de pinheiros e eucaliptos.
O peito enchia-se do aroma purificador do pinho ácido enquanto a manhã crescia com a azáfama do Natal. Os adultos trocavam conversas sérias, feitas de doces e da ceia.
Mas... e o presépio?
Isso era com as crianças...
Então, descia os caminhos toscos, serpenteados por entre os pinhais que levavam ao rio.
As pedras penduravam-se verdes e viçosas. E eu colhia as pastas de musgo da face dos rochedos, deitados por entre os pinheirais.
...E nascia um presépio com cheiro a pinho, a musgo, a verdade...
Não tinha piscas de luzes  mas um único ponto fixo luminoso, recordando a mensagem de Belém.
...Nasceu um Menino que iria desinquietar os bem instalados na Terra.
...E a mesa crescia com a alegria da festa, e da festa dos sabores.
Meia noite.
O sapato mais bonito para o Menino Jesus! Era uma presença especial, pois claro!..
...E lá ia deitar-me vendo bem a posição do sapato, não fosse Ele esquecer-se...
Adormecia com o sapato e a ansiedade
...E mal nascia o dia, corria para a chaminé, pendurando a surpresa no coração...
...O Menino lembrara-se de..mim e a alegria era do tamanho da felicidade daquele instante!..
 
 
Manuela Barroso