Abril de Abril
Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Manuel Alegre
do livro "Atlântico" 1981
Abril de Sim Abril de Não
Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
Manuel Alegre
30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote
qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora encondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena
(1919-1978)
6 comentários:
Boa tardinha de Paz e Liberdade, querida amiga Manuela!
"Abril de sol que nasce para todos."
Povo livre jamais será vencido.
Muito bonito o apanhado poético com que louvou os 50 anos do Dia da Democracia.
Tenha dias abençoados!
Beijinhos com carinho fraterno
25 DE ABRIL, SEMPRE!
Querida Manuela, tenha um domingo amoroso e feliz
e um final de Abril muito agradável.
Beijinhos
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Querida Manuela
Que forma mais linda de Festejar os 50 anos do 25 de Abril.
"Abril a rodos", "Abril de ser e não ser", "Não hei-de morrer
sem saber a cor da liberdade", dão uma panorâmica do antes e
do depois, das expectativas que a Revolução nos trouxe, do que
foi realizado e do que não foi, faltando ainda o que está para
ser.
Que a Liberdade esteja sempre nas nossas vidas.
Desejo-lhe um Dia muito Feliz.
Beijinhos
Olinda
Que festa esta que fazes aqui, minha Amiga. Os poemas de Manuel Alegre e Jorge de Sena dizem tudo o que nos faz pensar no dia 25 de Abril como um dia único que não queremos esquecer.
Um beijo e sente o meu abraço.
Queria dizer dia e escrevi domingo... Desculpe o lapso...
Em geral, nota-se uma tristeza preocupada que lamento.
Um abraço.
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Grato Manuela pelos maravilhosos poemes que nos deixas!
Deixo-te um excerto de um poema meu.
(***)
Eram muitos, muitos mil,
respirando Liberdade.
O povo cantou na rua,
vestido de mar e lua
soltou canções da garganta
como se o mar fosse a rua!
E a vontade amordaçada
pele força do fuzil
deu-me um verso madrugada
para eu cantar meu Abril,
levado pela enxurrada
destas águas… mais de mil!...
Que o aroma dos cravos se não desvaneça!
Um grande abraço. Bom fim de semana.
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