"Paisagens Naturais" de Helena Chiarello |
Os dias quentes de verão eram o repouso imposto aos corpos exaustos, castigados pelo trabalho árduo do campo.
A sombra das laranjeiras casava-se com a folhagem oferecida da ramada, donde pendiam agora os cachos negros de verdelho e retinto e que serviam de suporte a ninhos de cerezinas que espreitavam curiosas os estranhos vultos humanos...
...Mas as tardes tinham outro encanto!
O tempo ia correndo preguiçoso entre o rio e um livro à sombra da laranjeira pingando flores intensamente brancas, intensamente perfumadas...
...e deixava o "amor" adormecido no meio do romance e fazia-me ao rio com um pequeno e rudimentar apetrecho de pesca...
Tardes de pura quietude!
Deixava-me absorver pela mansidão das águas e dos pequenos peixes em recreio, que brincavam com as libelinhas que sobrevoavam a capa das águas que também dormiam e onde eu me espelhava juntamente com os choupos que emolduravam o meu corpo.
Era um cheiro a frescura, a água lavada, misturado com o lodo verde onde serpenteavam enguias e trutas esguias...
...e lançava o meu isco...e sorria...
...Os peixes, numa desconfiança atrevida, apareciam parcimoniosamente picando o anzol, com um "não te quero" ..."mas volto"...
...e davam meia volta como num bailado sem vénias!
... E... nada!
Mas era gostosamente doce e relaxante, sentir o vai-e-vem, o sossego que os barbos e bogas me transmitiam...
...e eu não queria o peixe...eu queria o prazer da tranquilidade das águas sobrevoadas pelas libelinhas , e que se agitavam em tremura, juntamente com o voo rasante das andorinhas...
...E neste relaxamento induzido pelo coaxar das rãs e o borbulhar das águas transparentes nos seixos, onde o céu azul mergulhava, transportava-me para o meu lugar seguro, onde não tinha necessidade
de defesas nem de escudos...
...Era eu própria!
Deixava-me embalar nesta onda de paz...
...olhava o Universo...
...e sentia-me à porta de minha Casa!
Corria uma maré frisante que arrepiou os meus cabelos acordando-me do torpor de pensamentos.
Mergulhei na água cristalina que me acordou...
...as folhas dos choupos dançavam dizendo adeus...
...e enfeitei os meus olhos com espelhos de água e libelinhas num entremeio de renda por onde os raios de sol penetravam...
... bordando este lençol que cobre ainda o meu berço de menina!
Manuela Barroso
( reeditado)
10 comentários:
Sempre lindo e emociona te ler! Adorei! bjs, tudo de bom,chica
Querida Manuela
O cenário e as emoções que exalam de sua prosa nos enreda nessa trama de sentimentos e somos acolhidos nessa leitura de imensurável beleza
Sabes que pude visualizar a cena tal a riqueza de detalhes e poesia em cada um desses dizeres tão emocionados
Belíssimo conto que me envolveu num deleite de pura gostosura
Beijos minha querida e uma feliz semana
Um texto lindíssimo, em que cada palavra nos transmite encanto, serenidade... e nostalgia de um tempo... em que havia tempo...
Um trabalho maravilhoso! Magnífica inspiração, Manuela!
Beijinhos! Continuação de uma feliz semana!
Ana
Delicadas palavras descrevendo um sentimento subentendido. Uma idéia que existe na cabeça e a alegria contida nesta prosa poética.
Gosto de te ler, sempre!
Passando pra conhecer o blog, gostei bastante. Que texto belo, transmite paz e saudade de um lugar especial.
Beijos.
Um texto delicioso, idílico...
Gostei muito, creio que não tinha lido a edição anterior.
Manuela, um bom fim de semana.
Beijo.
Não falta nada mas acrescento os nenúfares onde pousa o meu olhar.
Bj
Bom dia Manuela. Um primor onde sobra inspiração,lirismo e talento. Gostei de ler seus devaneios.
Bom final semana.
Grata pela visita ao meu blog.
Bjs!
Palavras delicadas e uma fotografia linda.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria de
Divagar Sobre Tudo um Pouco
Bom dia Manuela, estive aqui sexta passada, não visualizo meu comentário, repito então.
Belas expressões e imagens poéticas em seu texto.
Tenha um feliz findi!
Bjs!
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