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segunda-feira, 27 de maio de 2019

Foi ontem


Foi ontem ainda que o tempo não morria
na estrada da minha pele
Os olhos atravessavam as pedras nas micas incandescentes
de agosto
E as rosas...
Ah, as minhas rosas!
Choravam as pingas de sulfato das latadas em flor!
E eu corria menina nos canteiros
com margaridas sorrindo pelo meio!
Que bom saltar à corda ,à macaca e às casinhas
não saber ler a lua nem Vénus à noitinha
correr por entre o centeio que arde
no rubro sol na herdade...
Fazer tudo
fazer nada
Somente o lanche da tarde
Ah! morangos pequenos silvestres num creme
de açúcar e Porto na delícia de um recheio
da torta saída do forno e chocolate pelo meio.
E as delícias de amoras colhidas entre os picos
amansados com a língua pintalgada de salpicos?
E o sol ardia na pele e quanto mais ele batia
mais em fogo me fazia na praia do meu jardim
E nos vestidos rosa, de alça, eu mostrava a minha cor
e a graça de andar descalça na relva bordada de flores.
Ah, tardes na minha casa, meu descanso, meus jardins
que eu regava à noitinha com o canto  dos chapins

E põe-se o sol lentamente
ontem , hoje e amanhã
já não como antigamente...
Hoje foge a vida  a correr
fugindo de mim também.
Mas antes também fugia
porém, com outra magia.
Agora...
Ai, agora corro tão calmamente
saboreio cada hora
que quando vejo correr
os olhos gritam...
Pára, fica, demora!

E dói-me a pressa
da pressa dos outros
Dói-me ter que parar
na metade do caminho...
Devagar que tenho pressa
-digo para mim baixinho!
E...
deito o rosto entre as mãos
dobrando os dedos na face...
dói-me o peito ou o coração?
Ah, dói-me antes a carne
porque a alma...
essa, não!


Fevereiro 2013

Manuela Barroso





14 comentários:

Roselia Bezerra disse...

Boa Noite de muita paz e alegrias, querida amiga Manuela!
A sua descrição de si é ímpar, uma delicadeza que adorei ler e a imagem uma graça de linda.
Gostei das singelezzs da alcinha do vestido mostrando a cor da linda menina que, certamente foi.
Muito bonita sua maneira de escrever e super inusitada.
Parabéns, desde já, pelo seu livro que será um sucesso.
Tenha dias abençoados!
Bjm carinhoso e frateno de paz e bem

chica disse...

Que maravilha,Manuela! Que facilidade que tens de expressar poesia! ADOREI mais essa e bom te ver sempre! beijos, chica

Ana Bailune disse...

Lindo de doer a garganta!
Acho que essas lembranças sempre farão parte da vida - sinal de que tem sido bom.

Lucinalva disse...

Boa tarde, Manuela
Poema muito belo, um forte abraço.

lili disse...

Que lindo, minha irmã! Como é bom relembrar numa linguagem tão poética, as hitórias e vivências da nossa infãncia. Tudo o que retratas foi vivido por nós. Que dádiva tão grande termos crescido numa casa da aldeia, onde tudo à nossa volta era Natureza, no seu estado mais puro. Obrigada . Um xi da tua lili

lili disse...

Que lindo, Né! Como é bom recordar pelas tuas palavras, sempre tão poéticas, as memórias e vivências de uma infância tão feliz! Fazes reviver os momentos de um ontem, rodeados pela natureza e pelas coisas simples da vida. Que bom foi termos vivido numa aldeia, e saborear as coisas simples da vida. Obrigada. Um xi da tua lili

Graça Pires disse...

Não tenhas pressa. Deixa-te ficar na infância até recuperares toda a tua inocência. Lindo, o teu poema, Manuela.
Uma boa semana.
Um beijo.

Evanir disse...

Boa Noite .
O tempo foi passando ainda sem recuperar
totalmente dos problemas mais com esforço
e fé poderei chegar onde eu parei.
Agradeço a Deus por ter amizade tão sincera
que tanto significa para mim .
Em algum lugar desse mundo tenho
amizade que poço contar para sempre.
Aqui deixo um afetuoso abraço.
Saudades....Evanir.
Estou levando as mesmas palavras por onde passar
é uma mensagem que estou a deixar com
cada um de vcs que tenho no coração bem guardados.

lis disse...

Quanta doçura nesse poema! como é linda a paz e ingenuidade nessa fase das nossas vidas _ e como és maravilhosa para interpretar os sentimentos que perduram nos nossos corações.
Belíssimo!
Parabéns Manu
com muito afeto e doces abraços

Humberto Maranduva disse...

Que beleza ver-te a fazer desfilar este nostálgico cortejo mnésico de significantes tão bem adornados de sentidos; este teu poema melódico, cantado a dois tempos, onde o ritmo e a cor do primeiro contrasta de forma tão sentida com a placidez inconformista do segundo.
Muito bonito este teu retrato.
Beijos.

Ana Freire disse...

Uma maravilhosa inspiração... para apreciar demoradamente... sem pressas...
Encanto, sensibilidade, doçura... e uma profunda lucidez emanam deste belo poema... que percorre toda uma existência, que também sentimos como nossa... enquanto nos revemos nessa menina... que se encanta no jardim... no seu mundo...
Muito belo, Manuela! Um beijinho grande! E uma vez mais, muitos parabéns, e muito sucesso, para o novo livro!
Ana

SILO LÍRICO - Poemas, Contos, Crônicas e outros textos literários. disse...

Teu poema, Manoela,
É doce qual a tal rosa
Que tu'alma ama e esposa
Cumplicidade com ela.

Nos versos, ele revela
Muita luz terna e singela
Sem sombra tão perigosa
À alma! E a forma bela

Para a metrificação,
Bem como à rima estão
Perfeitas, por singular

Forma da composição
E da mensagem que são
Perfeitas pra declamar!

Grande abraço! Laerte.

Jornalista Douglas Melo disse...

Manuela,
Belo texto!
Bons mesmo são os tempo de criança e, essa passagem do poema
expressa exatamente isso!

"...E dói-me a pressa
da pressa dos outros
Dói-me ter que parar
na metade do caminho...
Devagar que tenho pressa
-digo para mim baixinho!..."

Gostei do teu espaço na web... Vamos interagindo sempre, pois, passei a lhe seguir.
Douglas

Beatriz Bragança disse...

Querida Manelinha
Saudades da infância que corria leve e plena de magia!
Que poético texto para recordar tempos em que tudo era doce, sem pressas, suave!
Um beijinho
Beatriz