Tempo de Páscoa.
O azul do céu parece (parecia-me) mais límpido, transparente e tranquilizador num
misto de serenidade e misteriosa inquietude.
A Natureza associa-se ao Tempo, com uma certa inconstância: ora está a acordar
duma longa hibernação, numa espécie de preguiça, ora acorda irritadiça alagando
as várzeas e fazendo tremer os salgueirais.
Mas também convida, assim, e quem sabe de propósito, ao recolhimento de um
passado que Agora ainda se recorda: A morte de Jesus numa cruz.
Mas a saudade vem quando, depois de comemorar a ressurreição, o Compasso visitava a minha casa, acompanhado de um tilintar de uma alegre campainha. E lá vinha uma coroa de flores pequeninas brancas e rosadas, envolvendo a cruz de uma suavidade luminosa, fonte da ternura pascal.
E a saudade voltou ao meu peito.
Hoje…não sinto o mesmo
azul, nem o mesmo perfume das flores, nem os rebentos dos salgueiros, nem a
chuva mansa.
A rebeldia da Natureza
reflete a incongruência da Humanidade.
E Ele, o Jesus das palhinhas?
Ainda e sempre à nossa
espera.
Imagem e texto
de
Manuela Barroso
4 comentários:
A sua penúltima pergunta deixou-me a pensar: a incongruência da humanidade refletirá - quanto muito - a rebeldia da natureza, pois vivemos prisioneiros da geografia. Jesus nas palhinhas é a nova ordem que nasce, dando sentido à humanidade nas contingências naturais que a cercam. O seu texto é muito visual e levou-me à aldeia, ao interior de Portugal, onde se sente a Páscoa. A cidade é por definição profana, apesar de ter tantos templos. A cidade é racional, ou tenta sê-lo. A aldeia é cada vez mais um lugar sagrado, onde muitas vezes a sensação de imutabilidade do tempo e do espaço leva-nos ao sagrado, ao que não muda, aos nossos mortos, ao passado do nosso passado, à nossa genealogia secreta. Gostei de lê-la e aprecio muito os seus comentários no arvorecomvoz.blogspot.com. É professora?
Boa Páscoa, Manuela
Olá, querida amiga Mnuela!
Felizes os que fazem a relação estreita do Menino das palhinhas com o Homem Deus da Cruz.
Hoje, ainda a um par de horas, caminhando pela praia, vislumbrei um lindo céu azul de outono.
Tenha dias da semana sanga abençoados!
Beijinhos fraternos
Uma Santa Páscoa, Manuela!
Um beijinho de luz!
💜💜💜Megy Maia
Manuela, teu “Tempo de Páscoa” não é só um texto — é uma janela aberta para um tempo mais lento, mais sincero, mais sentido. Tu nos levas por entre azuis de outrora, flores que exalavam ternura, e salgueiros que conheciam o silêncio das margens. E ali, no meio dessa paisagem de memória e fé, pousa suavemente a saudade — essa visitante que não pede licença, mas sempre encontra lugar no peito.
É com delicadeza firme que tu costuras o sagrado ao sensível, o divino à terra molhada de lembranças. E mesmo que o azul de hoje já não tenha o mesmo tom, tu consegues devolver-lhe a luz, nem que seja por instantes, através das tuas palavras.
Esse Jesus das palhinhas, de mansidão persistente, continua a nos esperar — talvez porque ainda não aprendemos a reconhecer as flores pequenas que Ele insiste em plantar dentro da gente.
Obrigado por essa travessia pascal — uma que se faz por dentro, como todas as verdadeiras.
Abraços fraternos,
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/2025/04/receita-de-um-caos-controlado.html
Enviar um comentário