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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Tempo de Páscoa-Semana Santa

 




Tempo de Páscoa.
O azul do céu parece (parecia-me) mais límpido, transparente e tranquilizador num misto de serenidade e misteriosa inquietude.
A Natureza associa-se ao Tempo, com uma certa inconstância: ora está a acordar duma longa hibernação, numa espécie de preguiça, ora acorda irritadiça alagando as várzeas e fazendo tremer os salgueirais.
Mas também convida, assim, e quem sabe de propósito, ao recolhimento de um passado que Agora ainda se recorda: A morte de Jesus numa cruz.

Mas a saudade vem quando, depois de comemorar a ressurreição, o Compasso visitava a minha casa, acompanhado de um tilintar de uma alegre campainha. E lá vinha uma coroa de flores pequeninas brancas e rosadas, envolvendo a cruz de uma suavidade luminosa, fonte da ternura pascal.

E a saudade voltou ao meu peito.

Hoje…não sinto o mesmo azul, nem o mesmo perfume das flores, nem os rebentos dos salgueiros, nem a chuva mansa.

A rebeldia da Natureza reflete a incongruência da Humanidade.
E Ele, o Jesus das palhinhas?

Ainda e sempre à nossa espera.

 


Imagem e texto

de

Manuela Barroso


4 comentários:

Luís Palma Gomes disse...

A sua penúltima pergunta deixou-me a pensar: a incongruência da humanidade refletirá - quanto muito - a rebeldia da natureza, pois vivemos prisioneiros da geografia. Jesus nas palhinhas é a nova ordem que nasce, dando sentido à humanidade nas contingências naturais que a cercam. O seu texto é muito visual e levou-me à aldeia, ao interior de Portugal, onde se sente a Páscoa. A cidade é por definição profana, apesar de ter tantos templos. A cidade é racional, ou tenta sê-lo. A aldeia é cada vez mais um lugar sagrado, onde muitas vezes a sensação de imutabilidade do tempo e do espaço leva-nos ao sagrado, ao que não muda, aos nossos mortos, ao passado do nosso passado, à nossa genealogia secreta. Gostei de lê-la e aprecio muito os seus comentários no arvorecomvoz.blogspot.com. É professora?



Boa Páscoa, Manuela

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida amiga Mnuela!
Felizes os que fazem a relação estreita do Menino das palhinhas com o Homem Deus da Cruz.
Hoje, ainda a um par de horas, caminhando pela praia, vislumbrei um lindo céu azul de outono.
Tenha dias da semana sanga abençoados!
Beijinhos fraternos

Margarida Pires disse...

Uma Santa Páscoa, Manuela!
Um beijinho de luz!
💜💜💜Megy Maia

Dan André disse...

Manuela, teu “Tempo de Páscoa” não é só um texto — é uma janela aberta para um tempo mais lento, mais sincero, mais sentido. Tu nos levas por entre azuis de outrora, flores que exalavam ternura, e salgueiros que conheciam o silêncio das margens. E ali, no meio dessa paisagem de memória e fé, pousa suavemente a saudade — essa visitante que não pede licença, mas sempre encontra lugar no peito.

É com delicadeza firme que tu costuras o sagrado ao sensível, o divino à terra molhada de lembranças. E mesmo que o azul de hoje já não tenha o mesmo tom, tu consegues devolver-lhe a luz, nem que seja por instantes, através das tuas palavras.

Esse Jesus das palhinhas, de mansidão persistente, continua a nos esperar — talvez porque ainda não aprendemos a reconhecer as flores pequenas que Ele insiste em plantar dentro da gente.

Obrigado por essa travessia pascal — uma que se faz por dentro, como todas as verdadeiras.

Abraços fraternos,
Dan
https://gagopoetico.blogspot.com/2025/04/receita-de-um-caos-controlado.html