Abadia - Minho
Em escombros, a casa de uma herdade
Pela pedra se vê que foi vistosa,
Como velhinha que, apesar da idade,
Ainda tem traços de que foi formosa.
É triste, por ser triste, de verdade
Aquela que foi nova, vê-la idosa.
Depois que se ultrapassa a mocidade
Não há vaidade que não perca a prosa.
O tempo acaba todo o ser vivente.
E o que é velho nunca mais renova
Por ser morte contínua, permanente.
E o que mais acaba e disto é prova,
É vermos a velhice a ver a gente,
Que, como a casa em ruínas, já foi nova.
Florentino Alvim Barroso, "Vento e Ventanias"