Rio Minho |
É uma luz calma que vai espreitando a terra.
Um vento leste, triste e manso, carrega com ele o ar
cansado do verão quente.
Tudo estiola.
O orvalho é bebido pela vida que o rodeia...
...e as folhas ficam encarquilhadas, numa contorção
angustiante de sede, de sombra.
Solo ressequido e poeirento nas bermas asfaltadas das
estradas.
O caminho alonga-se na medida inversa dos raios solares.
Uma pedra lavrada de musgo seco, lembra que já foi palco
de vida...
...fim de estrada, fim de pó.
Nasce um córrego que foge deste talco, descendo uma
delicada ravina...
...e a sombra arrasta o verde...
Cheira a água e acontece a profusão de cores, nas flores
penduradas, nas ribadas.
Os meus pés soletram as lajes uma a uma, escorregadias,
como granito macio, roído pelo tempo.
Os ouvidos questionam um sussurro.
A água vai rebentando das rochas num regato maroto,
bordado de flores azuis! São miosótis!
Acompanho este correr cantante da água...
...meia poça, meio lago, num aconchego de margens feitas
em açude, árvores inclinadas, numa saudação à Natureza...
...e mais vida acontece com a água plantada no verde das
plantas aquáticas subindo...subindo à procura de luz, nas flores, nos ninhos
dos rouxinóis presos na sombra do berço de folhas, nas libelinhas e no coaxar
das rãs...
E todos os meus sentidos ficaram presos nesta presa e na quietude onde tudo aconteceu espontaneamente,
exceto eu...
E o arrepio do vento era agora a brisa morna que acalmava
ainda mais a pele das águas que tremiam só com o esvoaçar das libelinhas, neste
espelho onde até o céu se mirava...
O tempo morria, porque nele me perdi...numa imensa
meditação...
...e permaneci assim presa, nesta encantadora prisão...
Manuela Barroso
(reeditado)