Seguidores

domingo, 18 de outubro de 2020

Outono Distante


Os dias vão encurtando, apertando a luz.
 Tudo vai fluindo para de repente bater num muro de interrogações e aparente  indiferença. 
Surge uma molécula algures, sem data de nascimento nem progenitor.


 Céus, Homem e Natureza  interpenetram-se, envolvendo-se com a Criação num ninho de bem-estar e encanto. Mas nada  o detém na busca e pilhagem  proibida na Casa que é de todos. 
Mas cada um na sua Casa.
Eis que se solta o grito estridentemente mudo de uma "coisa"  que se não se alcança. 
Aparece e fica.
Aparece e mata.
E vem em ondas leves, mortíferas.
E pousa suavemente.


 Tudo parece estranho.
O sol vigia  por entre os arrepios das nuvens na angústia do sofrimento que adivinha.


E o Homem não vê... 
...E o tempo passa.
Estreita-se o caminho para o pesadelo e ele espreita  agora  entre as cores carregadas de um poente sombrio numa advertência sinistra...
E o Homem não vê. 
 

Tudo é Uno. 
Tudo se comunica. 
Somos o continuum espácio-temporal, peregrinos e viajantes.
Talvez por isso, as marés e o oceano romperam a sua calma e em  uníssono bateram no muro indefeso da areia em redemoinhos de espasmo.  


Longe, o sol preparava-se para se esconder atrás das Bermudas, devolvendo ainda a mágica beleza de cada poente.  


Escondia-se, perguntando-se porém, nos milénios da sua idade  até quando a Humanidade deixaria de ser, tanto imatura como irresponsável. 


 Os Homens não acordaram da sua letargia, esquecendo que tudo é movimento, que o planeta é o jardim onde plantamos os olhos, o bosque onde descansamos o espírito, o vale onde dormem os prados. 
Os Homens confiaram em toda a tecnologia que ainda não lhes devolve todo o Poder .
Mas os pássaros recolheram -se nos seus refúgios distantes, em ramos pensativos, numa antecipada visão.
O Homem, não. 



Texto e Fotografias de
Manuela Barroso