Os campos
longínquos e verdes eram barcos no mar do meu pensamento.
Os olhos ausentavam-se nas encostas risonhas dos meus montes com rugas
em regatos cantantes e alegres, fugindo ao encontro dos botões das
giestas
e aromas de rosmaninhos.
Nos cabelos atrevidos e esvoaçantes dos choupos, penduravam-se rouxinóis
vestindo penas de primaveras meninas, em êxtases de cantos embriagantes,
repercutindo-se em ecos nos montes de nuvens dispersas no azul sereno e
transparente do Vazio celeste.
O vento indeciso, leve, era a vibração que acordava esta alegria interior, num
lago
de anónimas águas, num mutismo contemplativo.
Pensamentos mergulhavam de encontro aos seixos redondos em amêndoas coloridas.
Neste espelho mudo, as recordações boiavam nos penachos amarelos em jardins de Páscoa e começavam a sorrir embaladas no sono da saudade.
O canto do rouxinol ondulava nas curvas do pensamento, percorrendo agora a paisagem
colorida das glicínias, numa canção enternecedora e tranquila, escrita em memórias de sinos pascais.
E como uma nuvem, deixei-me envolver nesta melodia, flutuando nas
recordações
que se teciam também na saudade dos meus vestidos rodados de crepe e laços de
seda...
Uma imagem se criava em mim, recordando a Vida na morte do Filho do Homem.
Na cortina do tempo, abro hoje a janela, sorvendo a Páscoa do meu dia, na Paz que se faz em mim.
Manuela Barroso
(reeditado)