...e por entre a bruma, os passos escorregam na calçada roída pelo tempo.
O silêncio das pedras fala da presença das gentes.
São agora as heras que escorregam na face lavada pelo nevoeiro que passeia como um fantasma pelo espelho dos caminhos de xisto.
A civilização rouba a riqueza pacífica da serra e dos telhados que agora cobrem somente gatos e solidão.
A chuva miúda corre, gaiata, pela laje luzidia de encontro à cortina de bruma. A Serra da Lousã, ora se aninha, ora se ergue de mimosas ainda verdes, perscrutando a aldeia faminta de vozes de crianças que já não pedem para nascer.
A cidade enjoa.
Na memória sobram contos de fadas e princesas.
... o Homem sonha, a obra quer nascer.
.... o castelo ergue-se no xisto em ameias de faz de conta...
As janelas abertas com comando descansam na cidade maravilha.
A nostalgia das telhas com beirais onde antes faziam ninhos os pardais, os canteiros de fetos e musgo e as escadas íngremes são agora refrigério para a inquietude dos dias.
E entra-se num reino de nada e de tudo. Não existe vazio se a casa da alma se enche de paz.
A porta fecha-se... entreaberta...
As janelas de tabuinhas são olhos de espanto, enfeitados com o rímel do crochet "démodè"
A lareira acende-se.
O fumo regurgita pela chaminé diluindo-se com o nevoeiro.
...e um entardecer bondoso cobre Serra e Xisto num bálsamo de silêncio.
...e é tudo para se sentir feliz!
Manuela Barroso
"Pelas Aldeias de Xisto"