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terça-feira, 22 de outubro de 2024

Podes dar-me...

 






Podes dar-me as flores e pássaros e gorjeios que se desprendem do colo das árvores. 

Mas endurar-me -ei nos galhos que me cercam, 
fugindo ao ruído viscoso do fumo e sol vadio 
que os homens teimam impor-me.


Texto e imagem

Manuela Barroso





segunda-feira, 5 de agosto de 2024

Vê a calma ...

 






Vê na calma deste rio
O sossego a correr
Saboreando o estio
Não tem pressa de morrer

A foz é seu destino
Há milénios que o faz
Mas ao contrário de ti
Vai correndo como lhe apraz

Na calçada da tua vida
Terás uma foz como certeza
Tenhas ou não maior destreza
Enquanto passas pelas margens
Desfruta das suas paisagens
E conforme elas convidam
Faz do teu caminho um hino
Como se ainda fosses menino.

Manuela Barroso
Imagem- Pixbay



                                                Boas Férias, Agosto!

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Sou

 






Sou uma gota de chuva
sem outra
que não partiu
 
Desceu o céu
…ruiu.



Texto e Imagem
Manuela Barroso

sábado, 4 de maio de 2024

Explode mês de maio

 

Explode mês de Maio! E como te chamas, flor?




Explode, mês de maio, faz nascer
 também em mim,
 uma flor em cada dia e canteiros
de jasmim
Explode, mês de maio, rebenta os bolbos
das flores,
faz dançar as folhas tenras no verniz verde 
das cores
Explode, mês de maio, também és
mês da alegria,
mesmo aqueles que não creem
sentem o perfume no ar nos sinos
das Ave Maria
E se palavras tivesse para explodir
o que sinto
o mundo seria uma flor
um jardim
feito de amor
e nasceriam  em teu peito, em sementes
de saudade,
cravos em vez de espadas
e hinos à liberdade.


 

Manuela Barroso ( reeditado)



quarta-feira, 24 de abril de 2024

50 Anos do 25 de Abril

 








Abril de Abril

Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.

Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.

Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.

Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.

Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.

Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.

Manuel Alegre
do livro "Atlântico" 1981

 

 

  




 

Abril de Sim Abril de Não

Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.

Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.

Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.

Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.


Manuel Alegre
30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote

 

 

 







               Não hei-de morrer sem saber
               qual a cor da liberdade.
 
               Eu não posso senão ser
               desta terra em que nasci.
               Embora ao mundo pertença
               e sempre a verdade vença,
               qual será ser livre aqui,
               não hei-de morrer sem saber.
 
               Trocaram tudo em maldade,
               é quase um crime viver.
               Mas, embora encondam tudo
               e me queiram cego e mudo,
               não hei-de morrer sem saber
               qual a cor da liberdade.
 

Jorge de Sena     

(1919-1978)    

 

 



segunda-feira, 15 de abril de 2024

Flores silvestres








FLOR SILVESTRE

 
Sou filha do chão, bebo o leite dos orvalhos.
Não alcanço a plenitude dos voos mas voo na plenitude da cor
na graça com que são feitas todas as flores.
Tudo é pequeno em mim mas tenho a beleza
que atrai os insetos que voltejam em meu redor .
Não conquisto os canteiros geométricos
mas o meu mundo é o chão de todo o mundo.
Não tendo a ternura dos jardineiros
tenho o afago da casa das abelhas com travos de mel.

Sou filha do sol e dos caminhos
a alegria do perfume nos montes
rasos de urze , giesta e rosmaninho.

 

Texto e imagens
manuela barroso
 .

 

 





quarta-feira, 10 de abril de 2024

Primeiros sorrisos

 















São os primeiros sorrisos do tempo que começa a acordar.
Não são fotografias com a pose de um modelo fotográfico...
Mostram antes a rusticidade de um quintal que não pede 
licença para sorrir nem para passear pela casa
E é na simpicidade da flor que dará fruto, 
e na beleza de uma flor que se envaidece com a cor...
que aqui fica a simplicidade do gesto em flor...
Bendita sejas Primavera!


manuela barroso



domingo, 31 de março de 2024

Páscoa Feliz- Mês da Poesia


 





                                                                                     









Páscoa!
O Sol a tentar amaciar as mãos de um frio a desoras  
e recordei os dias primaveris do meu canto no recanto paterno.
As laranjeiras pingavam flores e o perfume vinha em vapores de brisa. 
Inebriante!

Hoje, frio e cinza cobrem o corpo e a alma.
Jesus Cristo deu a vida pela Humanidade. 
Mas ninguém ouve, nem fala, nem vê. 
É "demodée" falar num EU que se fez Homem e que ultrapassa o nosso entendimento.
Falemos antes em Inteligência Artificial esse "desconhecido...

É que e perdoem-me, quero falar de Páscoa e Ressurreição 
e tropeço em metais e pó.
Lembro o que Ele disse na Cruz 
"Pai , perdoa porque não sabem o que fazem".

Mas Ele está realmente  ressuscitado!








 E apeteceu-me recordar a primavera da minha Páscoa



Ah, manhãs frescas dos meus olhos,
tempo começando a acordar
ah, água fresca do regato,
borbulhas brancas,
correndo devagar!

ah, tardes quentes da minha aldeia
nos verdes prados dos meus campos
ah, sombras quietas dos meus choupos
e meu doce mar
de lírio brancos!

Ah, rouxinol sombrio,
andorinhas alegres dos beirais,
melodias do pisco vadio
ah, irrequietude dos pardais!

Ah, sinos longos da minha aldeia,
saudades na tarde calma,
nos olhos da lua cheia
via os olhos
da minha alma!

Ah, tempo que vai e vem
ah saudades do meu tempo
só não tem saudades quem
nada tem
no pensamento!


Manuela Barroso-"Luminescências"




Feliz Páscoa para Todos os meu amigos/as!





terça-feira, 19 de março de 2024

Mês da Poesia-Desejaste

 

 Um mês pelo Dia Mundial da Poesia    
 Iniciativa da Rosélia- Blog "Escritos d´Alma"





Desejaste um campo de poemas

na flor da noite.

Acompanham-te sombras de ardósias

e açúcares de lua.

No abismo do sono, colhes rosas negras

na alegria da noite

e na sonolência dos astros dormes

o abandono do teu corpo.

Descobres um veleiro em viagens submersas

e rumas ao sul de todas as poeiras

para encontrares o poema da vida

mesmo nas correntes mais adversas.


manuela barroso, "Luminescências"




 cerejeiras em flor







segunda-feira, 11 de março de 2024

Mês da Poesia-No âmago

 

    Um mês pelo Dia Mundial da Poesia    
 Iniciativa da Rosélia- Blog "Escritos d´Alma"



                                    A Poesia Lírica


No âmago desta cor
de que minha alma é feita
sobressai este lilás
de violeta campestre
que com o lírio  se faz
o perfume e a cor perfeita.
 
Eu
Tu
violeta e lírio
a ternura e a natureza.
 
Longe de ser martírio
é o auge da beleza
escrita nas nossas mãos
conjugada com o delírio.
 

 

Manuela Barroso, "Luminescências"











terça-feira, 5 de março de 2024

Mês da Poesia- Saber-te longe..."

          Um mês pelo Dia Mundial da Poesia    
 Iniciativa da Rosélia- Blog "Escritos d´Alma"



                                                 

                                                     A Poesia Lírica



Saber-te longe ou perto, que importa
se os passos do teu sorriso
me conduzem ao bucolismo do vale
onde se espraiam os meus sentidos?
 
Aproxima docemente o teu olhar do meu vulto
cercado das espigas amarelas do trigal
na elegância do bailado nas  asas dos sopros de brisa
exultando a terra, no aroma outonal.
 
Leva-me na transparência do brilho
no voo das tintas dos teus olhos
para morrer na insónia das tuas mãos.
 
E no mistério da penumbra
divagaremos na íntima muralha
enquanto a noite se afunda.



Manuela Barroso, "Luminescências"


Um sorriso e um abraço para todos!













 



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Charcos

 




Eis retratos de Vida...
...Flores que teimam nascer, crescer no meio do pântano.
O odor nauseabundo e putrefacto de água contaminada vinda do mais recatado e esconso canto não as amedronta...
...E florescem num desafio ao belo e ao horrível...
...E a cor desafia as borbulhas enquistadas que se soltam do ventre das águas...
...E o encanto permanece lá, no amarelo... e a flor é igual a ela própria: Linda!
Não perdeu, nem brilho, nem encanto, nem cor, nem admiração!
Tornou-se mais ela, mais flor...
E...Flores e... as flores teimam em florir nos charcos podres, numa espécie de purificação.
Vida ou morte...desejo ou ambição...guerra ou paz...

Olhasse a Humanidade  para os lírios dos charcos e vissem neles o antagonismo entre a graça e os desgraçados , a beleza e a presa. 

Ah! maravilhoso e enigmático mundo este!..
(reeditado)


Imagem e texto de
Manuela Barroso

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O Merlo: Amor e Sedução


Cada vez que os ouço, mais admiro o seu carácter, o seu instinto protector, a sua altivez sadia

      Como amante envolvente, cuida da casa, protege a companheira, vigiando-a, protegendo-a.

...ele é porventura o mais sedutor “gentleman” da população da sua espécie, no seu fato de cerimónia e seu bico de um amarelo de ouro, digno de um rei. 



O Merlo: O Sedutor amoroso

Quando vagueio por espaços sombrios, há um sobressalto em cada golpe de asa. Ou é um verdilhão que me desafia com os seus trinados, ou o adorável pisco que me acompanha, arrepiando-me com o seu canto. E quanto mais falo para as copas escondidas, mais me ele me provoca com uma redobrada sinfonia a uma só voz.

Mas quero falar do melro.
Ladino, com a velocidade de um jacto e a provocação de um perfeito D. Juan, ele é porventura o mais sedutor “gentleman” da população da sua espécie, no seu fato de cerimónia e seu bico de um amarelo de ouro, digno de um rei. Os seus gorjeios estridentes e atrevidos nada mais são senão avisos de que ali é condomínio fechado...
Como amante envolvente, cuida da casa, protege a companheira, vigiando-a, protegendo-a.
Habituada a ver os ninhos  das cantadeiras  ceresinas nos valados ou nas latadas em flor é vulgar assustar-me com uma fuga inesperada de um pássaro negro das laranjeiras ou por entre as silvas .

Não muito longe no tempo, um destes meus sedutores fez ninho num arbusto de hibiscos junto à entrada principal. Todos os dias guardava os principezinhos no encantamento da fragilidade da sua penugem. 
Porém, uma tarde, quando todas as aves se recolhem quando aparece Vénus e vendo a serenidade do ninho e ausência do general, pé ante pé, aproximo-me do ninho.
Os filhotes, sentindo o perigo ensaiaram uma gritaria que alertando os pais que dormitavam num pinheiro do jardim "mesmo ali"... descem em voo picado em silvos furiosos e assustados, rasando o meu rosto e cabelo em piruetas agressivas. 
Longe de imaginar tal investida, bati em retirada antes que levasse uma bicada nos olhos...

Cada vez que os ouço, mais admiro o seu carácter, o seu instinto protector de amor e espaço, a sua altivez sadia, a sua garra, o seu hino às manhãs azuis ou cinzentas e o seu smoking festivo porque afinal a vida é sempre uma festa.
E ainda hoje sorrio interiormente pela fuga pensando que só o Homem "pensa"

O tempo passa. Os gostos mudam. Mas como seria tão melhor se na sociedade houvesse- no melhor sentido-  mais melros: amorosos, protectores,  honestos , gentlemans.


Texto e imagens de 
Manuela Barroso







segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Aqui estou





 ...

Aqui estou junto ao baloiço dos ramos  onde sentarei a minha alegria .
Tudo esvoaça em revoadas com o cântico das cores dos pássaros, 
peneirando harmonia.

...longe, o fumo inglório e negro, roubando a esperança com que acordo cada dia ...
 

Manuela Barroso

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Silêncio e Paz

 



O dia vai escavando o tempo no aqueduto frio do silêncio. 
Sem brisa, nem pássaros, nem calor .
A luz vai-se dissipando por entre o nevoeiro turvo com  a PAZ flutuando.  


Texto: manuela barroso