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sexta-feira, 24 de março de 2023

Primavera Pascal-Crónica

 



Os campos longínquos e verdes eram barcos no mar do meu pensamento.
Os olhos ausentavam-se nas encostas risonhas dos meus montes com rugas
 em regatos cantantes e alegres, fugindo ao encontro dos botões das giestas
 e aromas de rosmaninhos.

Nos cabelos atrevidos e esvoaçantes dos choupos, penduravam-se rouxinóis
vestindo penas de primaveras meninas, em êxtases de cantos embriagantes, 
repercutindo-se em ecos nos montes de nuvens dispersas no azul sereno e transparente do Vazio celeste.

O vento indeciso, leve, era a vibração que acordava esta alegria interior, num lago 
de anónimas águas, num mutismo contemplativo.
Pensamentos mergulhavam de encontro aos seixos redondos em amêndoas coloridas.
Neste espelho mudo, as recordações boiavam nos penachos amarelos em jardins de Páscoa e começavam a sorrir embaladas no sono da saudade.

O canto do rouxinol ondulava nas curvas do pensamento, percorrendo agora a paisagem colorida das glicínias, numa canção enternecedora e tranquila, escrita em memórias de sinos pascais.
E como uma nuvem, deixei-me envolver nesta melodia, flutuando nas recordações 
que se teciam também na saudade dos meus vestidos rodados de crepe e laços de seda...

Uma imagem se criava em mim, recordando a Vida na morte do Filho do Homem.

Na cortina do tempo, abro hoje a janela, sorvendo a Páscoa do meu dia, na Paz que se faz em mim.


Manuela Barroso
(reeditado)


sábado, 14 de janeiro de 2023

Voos


Tentamos abrandar o ritmo das pulsações  
procurando o afago e a suavidade das  águas. 
Logo nos debatemos com sinais vermelhos 
proibindo a liberdade do nosso voo. 
Cada vez que tentamos poisar, 
há o cheiro do charco que vai apodrecendo a alegria.


Texto e foto
Manuela Barroso

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Simplicidades de Inverno






     

Na amenidade deste inverno, num vaso da minha varanda, ia brotando uma semente. Proveniência desconhecida.
Foi crescendo e deu flor.
Fora do tempo da primavera de outras flores.
A curiosidade ia despertando sobre o fruto que ia sendo vigiado como um ninho:courgette, abóbora ou outro?
Ao lado uma orquídea florindo no tempo apetecido.
Sem sobressaltos.
Hoje a neblina matinal desceu fria, gélida.
A flor amarela recolheu a sua corola numa espécie de protecção, hibernação ou desconforto. Linguagens da natureza...
O fruto, fora de tempo, vai-se desenhando no abrigo ameno de outras folhas na esperança de não abortar até ser testemunho de si próprio.
E se nascer, colherei novas desta divagação que aqui ficarão.
Até lá...
… era uma vez uma semente clandestina de inverno…
 
Simplicidades…

Manuela Barroso 

 



 



sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Feliz Ano Novo

 




Que a Festa de o  Novo  Ano que agora começa, seja a esperança de outras alegrias.
Para todos os amigos e amigas, 
Feliz Ano Novo ! 







Ano Novo, data comemorativa do Ano que agora se inicia e que na perspectiva do meu tio, reza asim...



Ano Novo


Mais um ano se vai, de árdua labuta.
Outros virão, assim, como este vai:
Um filho, a que faltou boa conduta,
Enchendo, de desgostos, a seu pai.
 
Mas o homem, sinónimo de luta,
Se é verdadeiro, nunca se retrai.
Pois quem, na vida, hesita é como fruta,
Que, antes do tempo, amadurece e cai.
 
E, cada vez que o calendário diz
Que o velho vai e, um novo, começamos
(Esquecidos de tanta cicatriz),
 
Ingenuamente, ainda, confiamos!...
- Ninguém arranca a esp’rança da raiz,
Depois que, cá na Terra, nos plantamos…


Florentino Alvim Barroso, in "O Vento e as Ventanias"- Edium Editores. 2009

 

 






quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Feliz Natal

                                                                 FELIZ NATAL!






Hoje a saudade bateu à minha porta.
Peguei na criança que eu fui e embalei-a no pensamento das minhas memórias repletas de recordações...
...Eram dias frios e húmidos nas terras do Gerês.
A noite era o breu que cobria a aldeia entrecortada de pinheiros e eucaliptos.
O peito enchia-se do aroma purificador do pinho ácido enquanto a manhã crescia com a azáfama do Natal. Os adultos trocavam conversas sérias, feitas de doces e da ceia.
Mas... e o presépio?
Isso era com as crianças...
Então, descia os caminhos toscos, serpenteados por entre os pinhais que levavam ao rio.
As pedras penduravam-se verdes e viçosas. E eu colhia as pastas de musgo da face dos rochedos, deitados por entre os pinheirais.
...E nascia um presépio com cheiro a pinho, a musgo, a verdade...
Não tinha piscas de luzes  mas um único ponto fixo luminoso, recordando a mensagem de Belém.
...Nasceu um Menino que iria desinquietar os bem instalados na Terra.
...E a mesa crescia com a alegria da festa, e da festa dos sabores.
Meia noite.
O sapato mais bonito para o Menino Jesus! Era uma presença especial, pois claro!..
...E lá ia deitar-me vendo bem a posição do sapato, não fosse Ele esquecer-se...
Adormecia com o sapato e a ansiedade
...E mal nascia o dia, corria para a chaminé, pendurando a surpresa no coração...
...O Menino lembrara-se de..mim e a alegria era do tamanho da felicidade daquele instante!..
 
 
Manuela Barroso
 

  






quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Encontro Temático de Natal

 

  MINHA PARTICIPAÇÃO DO 2º ENCONTRO TEMÁTICO DE NATAL NO BLOG DO JUVENAL NUNES





                                                                   POEMA DE NATAL










É Natal      

( Soneto de Meu Tio)


É Natal…E, sobre isto, há uma história,
Cheia de paz a condenar a guerra.
- Uma lenda de Amor e de Vitória,
Duma criança, que nasceu na Terra.
 
Tinha vindo, do Céu, cantar a Glória,
Do Pai, que está no Céu e o Céu encerra.
- A pregar que esta vida é transitória,
Que o certo é perdoar, sempre, a quem erra.
 
Este conto, há milénios nos seduz.
Mas a verdade, toda, em tudo isto
(Como ferida gangrenando pus,
 
 De tanta coisa vil, a que assisto)
-É ter morrido, à toa numa Cruz,
A criança chamada Jesus Cristo…



 Florentino Alvim Barroso, in "Vento e Ventanias"- Edium Editores







 

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Coisas pequenas?

 

  
Tudo é imensamente belo e apaziguador neste chão que o Criador nos oferece. 
Depois de um estio deveras severo, eis que aparece um túnel refrescante atravessado por ninhos e dormitório de andorinhas. 
Tudo parecia incrivelmente belo neste patamar tão natural, rodeado de  musgos e chilreos com sabor a alegria e  liberdade


que se iluminou ainda mais quando a vista se alargou para  mergulhar neste azul, aqui ainda mais azul, que num extenso período de seca se fez oásis para uma alma sedenta de Luz, Água pura, Liberdade e PAZ.
E coisas pequenas se tornam tão incrivelente grandes...


Manuela Barroso



segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Longe...

 



 

Longe, 
espraia-se a paisagem nua de luz no encanto da planície 
onde se agitam  repuxos de perfumes  silenciosos 
de violetas selvagens,
no baloiço inquieto da aragem.  


Texto e imagem
Manuela Barroso

 



sábado, 14 de maio de 2022

Abro os olhos



 



Abro então os olhos e sinto quão grande

é a beleza deste cântico que sepulta a minha alma

num leito verde e florido, num eflúvio  que abarca

todos os sentidos e mata esta sede de abraçar os sons

deste Poema feito Vida e Mundo, Terra e Flores e Pássaros .


Texto e imagem

Manuela Barroso



terça-feira, 26 de abril de 2022

Abandonas-te


 

Abandonas-te na imensidão do crepúsculo

e de novo deixas em cada viagem o sol-pôr da saudade.


Manuela Barroso

(Imagem e texto)