Vê na calma deste rio O sossego a correr Saboreando o estio Não tem pressa de morrer
A foz é seu destino Há milénios que o faz Mas ao contrário de ti Vai correndo como lhe apraz
Na calçada da tua vida Terás uma foz como certeza Tenhas ou não maior destreza Enquanto passas pelas margens Desfruta das suas paisagens E conforme elas convidam Faz do teu caminho um hino Como se ainda fosses menino.
Explode, mês de maio, faz nascer também em mim, uma flor em cada dia e canteiros de jasmim Explode, mês de maio, rebenta os bolbos das flores, faz dançar as folhas tenrasno verniz verde das cores Explode, mês de maio, também és mês da alegria, mesmo aqueles que não creem sentem o perfume no ar nos sinos das Ave Maria E se palavras tivesse para explodir o que sinto o mundo seria uma flor um jardim feito de amor e nasceriam em teu peito, em sementes de saudade, cravos em vez de espadas e hinos à liberdade.
Era um Abril de amigo Abril de trigo Abril de trevo e trégua e vinho e húmus Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo ainda só ardor e sem ardil Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas era um Abril na rua Abril a rodos Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças era um Abril de clava Abril em acto em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo Abril de boca a abrir-se Abril palavra esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo Abril de mão na mão e sem fantasmas esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Manuel Alegre do livro "Atlântico" 1981
Abril de Sim Abril de Não
Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
Manuel Alegre
30 Anos de Poesia
Publicações Dom Quixote
Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Eu
não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade, é
quase um crime viver.
Mas, embora encondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.